Entrevista com blogueiros [1/10]

Eis aqui a minha primeira entrevista com um blogueiro de renome.
Pretendo que esta prova do meu ócio (ou, para alguns, prova de hiperatividade), dure mais nove semanas. A cada semana, um blogueiro que eu admiro será entrevistado por minha gente (não é sinônimo de “pessoa”? Então ta certo, ué).
O entrevistado da semana é o Eightbits (do S&H), e você saberá mais sobre ele durante a entrevista sensacional que eu tive com ele nesse último fim de semana.

Matheus: O S&H aparenta ser um dos blogs mais atualizados da blogosfera, e talvez por isso seja um dos maiores do país. Você tem 29 anos, trabalha e, provavelmente, tem filhos e uma vida social agitada. No meio de tudo isso, será possível que ainda dê tempo de você escrever no S&H todos os dias?
Eightbits: Bem… Na verdade, hoje já estou com 31 anos, e já faz quase um ano que deixei meu emprego para me dedicar exclusivamente ao blog. Isso foi legal por que me permitiu trabalhar em casa, próxima a minha filha; antes disso eu quase não a via. Isso também me ajudou a terminar esse último ano da faculdade. Mas mesmo assim passo muito tempo do dia garimpando e tentando resolver os problemas do blog.

M: Pra você, o que era um blog há 10 anos e o que é um blog hoje? Você acha que muita coisa mudou ou tem que mudar?
E: Hum… 10 anos é muito tempo. Os blogs no Brasil ainda eram vistos em sua maioria como “diários de adolescentes”, e era assim que os via também, pois trabalhava com sites. O que mudou foi a forma das pessoas de procurarem opiniões, e não apenas notícias; e também cresceu a necessidade de expor as suas próprias. Uma das coisas que espero que mude é a mentalidade das empresas para perceberem o quanto um meio de comunicação e feedback como um blog corporativo pode ajudar a detectar problemas e oportunidades em seus serviços e produtos, e sempre melhorar. As pessoas já perceberam isso.

M: Você acredita que os blogs sejam o futuro do jornalismo?
E: Sinceramente não. Os blogs são mais uma mídia cujos jornais da vanguarda estão tratando de trazer as melhores características para dentro dos seus portais; provavelmente isso irá trazer um híbrido da mídia de muito sucesso. O blog tanto é uma nova (já nem tanto) área de atuação para o jornalismo como um espaço para o simples cidadão que quer falar sobre os problemas de sua cidade, ou para um garoto que quer dar dicas de games. O grande problema da questão blog x jornal é quando vemos jornais tentando levar essas características para dentro do jornal impresso, aí é que surgem as aberrações; é querer que as pessoas ouçam um programa de rádio na TV, audio-vídeo nos outros canais. Somando isso com a queda contínua da venda de jornais, os executivos e empresários tentam criar essa richa e muita gente entra na onda.

M: Mas você admite que os blogs influenciem ou sirvam de referência “jornalística” para muitos?
E: Sim, assim como em uma conversa com um amigo seu. Ele, ao expressar sua opinião, pode fazer você rever seus conceitos. A imprensa tradicional tem a bandeira da imparcialidade, mesmo nós sabendo que nem sempre é assim, e o pública cobra isso dela. Já os blogs surgiram em outro conceito: o da liberdade de cada um falar o que quiser para quem quiser, e dentro dele há o espaço para as discordâncias, que fazem parte dos posts, bem como a “notícia”, coisa que não era possível antigamente; alguém faz um post com erro, logo logo aparece alguém apontando e minutos depois aquilo foi corrigido para os próximos leitores, não é igual a coluna do “erramos”, que é quase fixa em todos os jornais, mas ninguém lê.

M: Fora os blogs que você lê o que mais você gosta na Internet?
E: Nossa… A lista seria imensa. Eu vivo e respiro isso (a Internet)… Acho que o que eu mais gosto é a internet em si, a sua capacidade de se transformar, de surgir coisas novas a cada dia, e em sua grande maioria acessível a todos que podem navegar. Imagina como seria a educação no Brasil se todo aluno realmente tivesse um notebook de 100 dólares e conexão wireless? Se todas as grandes cidades tivesse Wimax em sua área?

M: Se você fosse definir o modo como você bloga, com apenas uma palavra, qual seria?
E: Projetar-me. Eu me projeto naquilo que eu coloco no blog, não é nem o que eu escrevo, mas o conteúdo em si, aquilo sou, é o que eu gosto e sei que outros gostarão.

M: Pra concluir a entrevista, gostaria de fazer uma pergunta sobre muitos blogs atuais, pois o que vemos são muitos formatos parecidos na blogosfera brasileira. Até admito que o S&H tenha um formato bem clichê, mas o que se torna tão “clichê”, na verdade, são muitos blogs que o imitam. Blogs como o Haznos (que eu pouco admiro) tem 99% do seu conteúdo somente voltado para links, links e mais links. Você acha que esse tipo de blogueiro merece um lugar alto na hierarquia da blogosfera brasileira? Ou acha que esse tipo de “trabalho” é pouco importante?
E: Aí é onde temos que separar dois tipos de blog: os redirecionadores de conteúdo e os geradores de conteúdo. Nada impede que um tipo tenha algum material do outro, mas quando vemos em sua predominância ou são redirecionadores ou são geradores e ambos são importantes, pois esses últimos que criam o material “original” da blogosfera; já os redirecionadores, como o S&H, ajudam a levantar a visitação deles destacando posts interessantes, dando sua opinião sobre eles e pedindo para o público visitá-los, ele se torna uma vitrine, ou melhor, um shopping cheio de vitrines dos outros blogs, destacando o melhor neles e oferecendo ao leitor. Você pode perceber que na blogosfera, apesar de todo dia surgirem “rankings controversos”, rola uma relação de círculo virtuoso, onde todos se ajudam e criam “websurfing”. Não se vê uma briga sobre qual trabalho é mais importante, ou “eu sou mais bonito do que você”. Isso geralmente surge em blogueiros novatos, com a mente ainda muito voltada a concorrência que se faz na mídia offline.
No mundo virtual é o inverso. Quer crescer? Pare de concorrer e comece a se aliar!

M: Mas você acha que é admirável um blog que só redireciona conteúdo e ainda quer ser “consagrado” por isso?
E: Vamos definir “consagrado”? Pois no meu entender, quem consagra é o público e os leitores, se ELES estão gostando, ELES que estão consagrando. Não é como na TV, por exemplo, onde um “Felipe Dilon da vida” paga para aparecer num programa e o apresentador diz: “Esse é o melhor músico da atualidade!”. Não existe mais gente boba nem trabalho fácil. Não é o Blogger que diz “eu sou bom”, é o público que ele tem que conquistar com credibilidade. De vez em quando eu vejo blogs que são robôs, código PHP que roubam nossos materiais e outros tal e qual chupando direto do RSS. Por que eles não crecem então? Por que não duram tanto tempo? São milhões e milhões de blogs e não é tão fácil se reconhecido como blogueiro ou ser “consagrado” como aparece nas matérias do jornal da globo, se fosse fácil assim, assim haveriam mais consagrados do que consagradores. E “eles não crescem, então?”.

M: Obrigado pela intrevista, Eightbits. É um tanto memorável sua opinião sobre os blogs e seus blogueiros. Você tem alguma frase de efeito pra acabar a entrevista?
E: Os nerds somos nozes! (E dessa vez é “nozes” mesmo*).

(*) Refere-se aos erros de digitação.

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Uma resposta to “Entrevista com blogueiros [1/10]”

  1. Natan Says:

    Parabéns pela entrevista, e pela iniciativa de fazer outras… o Epifania está ficando cada vez melhor !

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